É comum empresas ou times ágeis terem dúvidas sobre quando fazer uma Lean Inception. São muitas perspectivas acerca desse tema e, neste texto, nós vamos conferir algumas!
- Lean Startup e Lean Inception
- Dual track development e Lean Inception
- Projeto inovador e com muito impacto no negócio
- 3Hs e a Lean Inception
- Diamante Duplo e Lean Inception
- Sprints de Experimentação e Lean Inception
- Início de um projeto e Lean Inception
- Business Model Canvas e Lean Inception
- Quando não fazer uma Lean Inception?
- Um sandwich de Lean Inception
Lean Startup e Lean Inception
Lean Startup (build, measure, learn): Vamos começar com um case de Lean Startup para o início de um empreendimento, com muito aprendizado e experimentos. Ou seja, vários experimentos foram rodados, muitos ciclos de construir-medir-aprender e agora, com um aprendizado já consolidado, deve ser feita uma Lean Inception para decidir qual será o primeiro passo para o produto, qual será o MVP a ser construído rumo a uma solução de muito êxito.
Os ciclos de construir-medir-aprender podem ser guiados por um ou uma combinação desses três casos possíveis:
- Pedido vem da área de negócios: Então, primeiro é preciso validar as hipóteses, passar pelo ciclo de Lean Startup e, com a ideia mais madura, rodar a Lean Inception;
- Validação dos experimentos: Ao fazer muitos experimentos, testar muito e validar tais iniciativas, é possível confirmar que existe uma boa ideia e, então, seguir para a Lean Inception para decidir o próximo passo;
- Pesquisas com o usuário: foram feitas pesquisas com os usuários que compartilharam suas dores e desejos, segue-se passando pelo ciclo construir-medir-aprender para experimentar e validar se o que o usuário está realmente pedindo. Uma vez que essa pesquisa evoluiu e gerou bons resultados, é hora de fazer uma Lean Inception com a proposta de construir um produto, uma solução, maior, colocando o produto na mão do usuário – ou seja, o MVP.
Dual track development e Lean Inception
Dual track development: Um outro possível momento para uma Lean Inception é quando temos o dual track development, que são dois tracks: continuous discovery e continuous delivery — ou seja, quando está tendo descoberta contínua e entrega contínua.
Ao fazer várias atividades de descoberta, pesquisas com o usuário, experimentações etc., continuamente, você vai gerar informação útil para a tomada de decisões sobre o que deve construir, o que entregar.
Em algum momento, se necessário, você precisará alinhar com mais pessoas para decidir: qual produto será construído? Qual é a solução para tal problema? Qual deve ser o primeiro passo na construção dessa solução? Essa é a hora de fazer uma Lean Inception e criar o plano do MVP e, então, você estará pronto para trabalhar com entrega contínua desse MVP e os incrementos do produto.
Em alguns ciclos você terá o MVP pronto. Você o colocará na mão do usuário e continuará no ciclo construir-medir-aprender, agora com aprendizado e descoberta (contínua) com base no uso real do produto. Em outras palavras, você continua a evoluir continuamente nesse dual track de descoberta e entrega contínuas.
Só é importante ressaltar o “se necessário” dito um pouco acima. Se você, por exemplo, já estiver trabalhando em um time de produto com todo mundo alinhado, talvez não seja necessário realizar a Lean Inception. Entretanto, se a sua realidade é como a que vejo nas empresas em que passo, com times diferentes trabalhando em cada track, de tempos em tempos é essencial alinhar todos em direção ao mesmo objetivo — e é nisso que a Lean Inception vai te ajudar!
Projeto inovador e com muito impacto no negócio
Projeto inovador e com muito impacto no negócio: Se você tem um projeto, uma iniciativa, que é muito inovadora e tem muito impacto no negócio, faça uma Lean Inception. A situação pede por uma, pois tem muita inovação e provavelmente haverá também um grupo de pessoas que precisará entender melhor o que será feito.
Agora, se o seu projeto tem pouca inovação, mas muito impacto no negócio, essa é a sua “vaca leiteira”, que são os produtos já existentes que não exigem mudanças, mas que continuam sendo importantes para o negócio. Nesse caso, não faça uma Lean Inception. Não estresse a sua vaca leiteira que está trazendo sustento para a sua empresa pois, ao tentar mudá-la, ela pode parar de produzir leite. Talvez você possa fazer uma inception não para a parte da eficácia do leite, mas para a eficiência operacional da vaca leiteira.
Agora vamos pensar em projetos que possuem muita inovação, mas pouco impacto para o negócio. Essas situação também não exigem uma Lean Inception pois o impacto é baixo. Você precisa de descoberta, experimentação e ideação para gerar mais aprendizado. Aí sim, se você tiver muita aprendizado, talvez consiga trazer mais impacto para o projeto e, assim, a Lean Inception entra em cena.
E a última área desse tópico são projetos com pouca inovação e pouco impacto no negócio — esses também não precisam de uma Lean Inception, pois seria desperdício de tempo. Se a sua iniciativa está caindo nessa situação, é preciso revê-la ou descartá-la.
3Hs e a Lean Inception
Horizonte dois: Essa é uma perspectiva que também chama por uma Lean Inception. A McKinsey criou o framework dos três horizontes para o crescimento das organizações. Os autores do framework passaram por várias empresas e constataram que aquelas que tinham muito sucesso por vários anos consecutivos seguiam essa forma de investir no portfólio e manter o crescimento, que é o que chamaram de horizonte um, horizonte dois e horizonte três.
A todo momento a empresa precisa estar investindo um grande percentual no horizonte um, que é a vaca leiteira, o que traz o sustento da empresa.
Entretanto, ao mesmo tempo, precisa investir também uma parte de sua capacidade (seja de recursos financeiros ou intelectual) no horizonte dois, que são as iniciativas que não trazem sustento para a empresa agora, mas que estão gerando resultados que, no futuro, podem se tornar novas vacas leiteiras.
E o horizonte três são as iniciativas que geram aprendizados e, mesmo que não gerem resultados ainda, também precisam de investimento. Ou seja, horizonte um é receita, horizonte dois é resultado (para virar receita no futuro), e horizonte três é aprendizado.
Agora veja que interessante. Horizonte um já falamos anteriormente que não precisa de inception para não correr o risco de estressar sua vaca leiteira (mais uma vez, apenas considere faça uma inception caso precise repensar algo de eficiência operacional). E o horizonte três precisa de Lean Inception? Não, horizonte três é experimentação, aprendizado, inovação. Precisa, sim, de investimentos. Mas não de uma inception.
Agora o horizonte dois, sim, é o cenário no qual você quer trazer um grupo de pessoas para pensar sobre diferentes caminhos e, a partir disso, decidir o que será feito, para onde o time vai, qual será o produto mínimo viável para tal iniciativa a fim de validar as hipóteses desse produto que, no futuro, pode virar a vaca leiteira.
Diamante Duplo e Lean Inception
O segundo D do Diamante Duplo: Do Design Thinking temos o Double Diamond (os quatro Ds), que é um modelo muito útil para os designers organizarem seus pensamentos a fim de melhorar o processo criativo.
O primeiro D é o discovery, a descoberta, que abre muitas opções. O segundo é o define, definir, que vai fechar a quantidade de opções e escolher qual delas você vai perseguir. Depois temos o desenvolvimento, a construção da solução; e a entrega, tudo o que envolve a aprovação da solução e lançamento.
A Lean Inception não é ideal para todos os momentos, mas é o fit perfeito para o segundo D, o define. É o momento em que você vai fechar as opções, pois já entendeu a descoberta, e decidir por onde começar, decidir o MVP, montar a primeira solução que será desenvolvida e colocada nas mãos dos usuários.
Sprints de Experimentação e Lean Inception
Depois de sessões de ideação e experimentação: … a Lean Inception é perfeita. Se você tem várias sessões, sejam Sprints de experimentação, sejam momentos de ideação, está gerando muito conhecimento e muito aprendizado. Via de regra, em algum momento acenderá uma luz por esse acúmulo de aprendizado: “Olha, parece que essa é uma boa ideia, parece que a partir dessa iniciativa vamos atingir o product market fit”. E então você pode fazer uma Lean Inception para alinhar com um grupo de pessoas e, assim, todos saem dela com um plano de criação do produto baseado no conceito de MVP.
Início de um projeto e Lean Inception
Na fase inicial de um projeto: Muitas empresas usam a Lean Inception como um passo inicial enxuto, e isso acontece mesmo em projetos muito grandes e complexos. O projeto foi aprovado? Ótimo, então precisamos começar a desenvolvê-lo. Mesmo que ele seja muito grande, vale a pena começar com a Lean Inception para alinhar as pessoas e terminar o workshop com um plano de construção.
Hoje quase todos os projetos são aprovados sem um excesso detalhes. E em vez de gastar tempo detalhando todas etapas e atividades do projeto, o time faz a inception, cria um plano enxuto e começa a entregar, incrementalmente. E por que isso? Para o time dar um primeiro passo seguro e ter a certeza de que está indo na direção correta.
Business Model Canvas e Lean Inception
O passo seguinte ao BMC (Business Model Canvas): O Canvas é um artefato maravilhoso que mostra a estratégia do seu negócio. Ali tem a proposta, tem os canais de venda, tem tudo de modo claro e fácil. A estratégia está linda e excelente, mas qual é o próximo passo?
É ótimo ter uma estratégia abrangente e uma visão com muitos planos, mas é preciso começar com um passo curto. Ao fazer a Lean Inception, você sai dela com um Canvas MVP. Então terá a visão do negócio muito bem fundamentada no BMC e um plano muito firme do seu MVP (algo que você alcançou ao fazer a Lean Inception, construindo seu Canvas MVP).
Quando não fazer uma Lean Inception?
Esses foram alguns casos em que a Lean Inception se encaixa muito bem. Mas é igualmente importante saber quando não fazer uma. Não é porque você tem um martelo que vai sair martelando tudo, concorda?
Então vamos ver alguns exemplos:
- Se você está fazendo discovery e research é para gerar aprendizado, então não cabe uma inception. Você pode usar outros métodos e outras técnicas, mas focando em continuar gerando aprendizado.
- Se está decidindo um protótipo, faça uma Design Sprint, que aborda exatamente isso e termina a semana com um protótipo já decidido e testado, mas não faça uma Lean Inception.
- Se precisa alinhar vários times sobre um programa de trabalho, isso também não cabe em uma Lean Inception. Você pode usar uma PI planning para isso.
- Se busca priorizar um portfólio de iniciativas, deve usar os métodos WSJF ou RICE. Coloque as suas iniciativas, dê valor a elas e decida qual é a prioridade.
- Se pretende mapear detalhes técnicos de uma solução, muitas pessoas até chamam de inception, mas é um workshop mais técnico. A Lean Inception tem sempre as perspectivas de negócio, usuário e tecnologia, então não cabe nessa situação. Organiza uma sequencia de atividades técnicas.
- Se há a necessidade de definir o processo de trabalho de um time, também não se deve fazer uma inception. Mas você pode realizar várias atividades para desenvolver essa forma de trabalho. O site FunRetrospectives.com, por exemplo, conta com várias atividades de construção de times com excelentes sugestões de como conduzir uma situação assim. A Lean Inception não é para isso, pois o foco dela é alinhar um grupo de pessoas sobre um produto a ser construído.
- Se vai planejar o backlog das Sprints em user stories, faça um PBB, do Fábio Aguiar, uma técnica maravilhosa que usa o entendimento do MVP e das funcionalidades para criar as user stories e o backlog.
- Se deseja mapear as jornadas dos usuários em user stories, também não é o momento de fazer uma Lean Inception, mas sim de usar o User Story Mapping, do Jeff Patton.
Um sandwich de Lean Inception
O que geralmente acontece é que a Lean Inception está no meio, tem algo acontecendo antes e algo a acontecer depois. Apesar de se chamar inception, ela raramente é o começo.
O que geralmente acontece é que a Lean Inception está no meio, tem algo acontecendo antes e algo a acontecer depois. Apesar de se chamar inception, ela raramente é o começo.
Design Sprint, Lean Inception, PBB
Um exemplo muito usado no Brasil é começar com uma Design Sprint para verificar as opções e decidir o protótipo ganhador. Tendo esse protótipo do produto, faz uma Lean Inception para decidir o MVP, por onde começar e quais os incrementos seguintes. E, depois, faz um PBB para criar as histórias de usuário e trabalhar nas Sprints.
Business Model Canvas, Lean Inception, Kanban
Agora um outro exemplo mais comum na área de empreendedorismo é iniciar pelo BMC para entender a estratégia do negócio; seguir com uma Lean Inception para entender a estratégia do MVP; e finalizar com um Kanban de tudo o que tem que ser feito para entregar o projeto com muito sucesso.
Data Mesh Accelerate Workshop, Lean Inception, Event Storming
E temos também uma opção mais moderna, que começa com um Date Mesh Accelerate Workshop. Muitas corporações estão usando Data Mesh e começam com esse workshop para entender o projeto e para escolher a iniciativa piloto que será trabalhada na Lean Inception. Na sequência, entra um Event Storming mais técnico e mais específico em relação àquela iniciativa que já está mais bem resolvida graças à Lean Inception.
PI Planning, Lean Inception, Ways of Working, User Story Mapping
Mais uma ideia é fazer um PI Planning, um programa de trabalho. Muitas equipes usam esse método para definir os trilhos e, para cada trilho, fazem uma Lean Inception. Depois definem os Ways of Working daquele time e, por último, o User Story Mapping para mapear as histórias dos usuários baseadas em jornadas.
Onboarding, Lean Inception, Sprint 0
E, para finalizar, um último exemplo típico que se inicia com um onboarding, com atividades de construção de time, por exemplo. Depois, com o time já em formação, é feita uma Lean Inception para alinhar sobre o produto que será construído. E depois segue com uma Sprint Zero para, com o MVP já entendido, poder começar a trabalhar efetivamente.
Com base em tudo o que foi apresentado aqui, você agora tem as informações que precisa para decidir quando fazer uma Lean Inception e quando optar por outros métodos. E quando ela for a sua escolha, os exemplos citados vão lhe ajudar a fazer um excelente trabalho com a Lean Inception. Aproveite!