Eu sou o Paulo Caroli e este é o Podcast Mínimo Viável, onde compartilho conhecimento sobre as novas relações de trabalho e, assim, contribuo para a transformação de um mundo melhor.
Neste episódio, o áudio de uma palestra de 2013, onde o autor Paulo Caroli fala sobre parâmetros de fluxo e até compara com seu bar de whiskey. Nas notas do episódio, você encontrará os links para o vídeo no YouTube e, também, para outros artigos relacionados e para o livro Diagrama de Fluxo Cumulativo.
Márcio, parabéns. Gente, olha só, o Márcio abriu tudo, ele falou de tudo e super rápido. Então, isso é muito bom, que agora eu posso gastar 18 minutos para falar de whiskey e sushi. Já me entreguei né, que eu falei whiskey. Eu deveria ter escrito outro nome. Whiskey já saiu o “carioquês” aqui, tá. Então, vai lá… desculpa o meu “carioquês” e meus erros de português, tá? A palestra está em inglês, porque quase não tem texto e o Tim Brown vai poder entender.
Vamos lá, eu sou o Paulo Caroli, trabalho na TW e vamos falar de whiskey e sushi, quem sabe de flow. Essa é a nossa agenda: primeiro, a gente vai falar um pouquinho do meu bar e a gente vai entender os parâmetros de flow e, depois, a gente vai falar da minha experiência num restaurante japonês e aí a gente emenda junto com o Márcio.
Essa é a foto do meu bar. Se algum dia você vier a Porto Alegre, está convidado para vir tomar um whiskey comigo no meu bar. Eu gosto muito de whiskey, como você pode ver aqui, a minha esposa ela coloca umas garrafas de licor e outras coisas para o lado de lá. O meu lado é combinado, é esse lado daqui e cabem 12 garrafas. Essa é a história do meu bar.
Como eu gosto muito de whiskey, sempre que eu viajo eu escolho uma garrafa de whiskey diferente para experimentar um whiskey novo. Eu fico doido para abrir aquela garrafa de whiskey, só que eu tenho uma regra: eu só abro uma garrafa de whiskey e boto no meu bar quando sair uma vazia. Beleza?
Então, cheguei de viagem, trouxe um whiskey novo, boto lá num canto do armário e não pode entrar no meu bar. Só vai entrar no meu bar quando uma sair. O meu bar é um sistema estável, sempre que sai uma garrafa, entra uma nova. Sai uma garrafa vazia, eu abro, experimento e entra no meu bar.
Vamos falar de parâmetros comuns de flow. Primeiro, segundo Tim Brown, “Whiskey in Progress”, Work in Progress. O número de garrafas no meu bar, o meu bar é meu sistema, o número de garrafas no meu sistema, garrafas que foram abertas estão sendo tomadas e ainda não terminaram.
Lead Time. É legal que o Tim falou disso de manhã, o Márcio falou disso agora. Lead Time: quanto tempo leva desde que eu abro uma garrafa até que ela saia vazia? Quanto tempo uma garrafa passa no meu sistema? Tem muita confusão na nossa indústria em relação a Lead Time e Cycle Time. Eu tento seguir essas definições bem diferentes.
Cycle Time é o intervalo de tempo entre duas garrafas saindo consecutivamente do meu bar. Legal? Alguma dúvida entre Lead Time e Cycle Time? Isso aqui gera a maior confusão. É muito comum todo mundo chamar tudo Cycle Time.
Troughput é a vazão com que as garrafas estão passando pelo meu bar. Batch Size, o Tim também, o keynote dele hoje ele falou muito sobre Batch Size, qual o tamanho da garrafa no teu bar? Então, vamos lá, de volta para o meu bar. Um dia eu estava bem interessado em ver quanto tempo era o average Lead Time de uma garrafa de whiskey no meu bar.
Eu sentei, botei a garrafa do meu lado e fui tentar fazer essa conta. Fui pesquisar como medir isso e falei: ah, John Little, na tese dele em 1961, ele escreveu o que hoje ficou famoso como Little O, ele estava tentando provar matematicamente uma coisa que um outro cara tinha escrito cinco anos antes.
O outro cara, eu esqueci o nome do cara, não sou bom com nomes, mas ele falou: todo o sistema isso é sempre verdade. O John Little foi e provou e essa foi a frase que ele constatou e provou matematicamente. Vou dar um tempo para vocês lerem e vou falar em português: A média do número de work items está é average Work In Progress, num sistema estável, isso é bem importante, para o meu bar o sistema estável. Eu acredito que o time de vocês também estável, terminou uma história, começa uma outra, é igual a average completion rate, Troughput, multiplicado pelo average time in the system, Lead Time.
Tá, indo pro teu bar aqui, quisera eu que a gente tivesse bar em nosso trabalho. Botando isso aqui agora numa visualização de card wall (kanban), que é o que a gente tem nos nossos times. Work in Progress, quantas coisas estão em andamento no meu sistema no Doing e o Lead Time de quanto tempo leva. Ele estava pesquisando e chegou na conclusão que isso é proporcional. Essa é a conclusão dele, essa fórmula de primeiro grau, super simples: WIP = Troughput X Lead Time.
Então, me ajudem no meu bar: cabem 12 garrafas no meu bar, esse dado é real tá. Isso não é alcoolismo tá, se você bebe seis garrafas por ano, significa que você bebe bem pouquinho todo dia e é bom para o coração. Da última vez que eu falei isso, já teve blog falando ah… o alcoólatra do Paulo Caroli falou que não sei o que, então, não é alcoolismo é para o coração aí galera.
Eu bebo, em média, ou sai do meu bar, em média, seis garrafas por ano. Qual é o average Lead Time, qual a média do Lead Time de uma garrafa de whiskey no meu bar? Vou deixar vocês, o Márcio fica aí cara e já dá tempo para vocês pensarem. Estão pensando aí? Vai pensando aí já.
Quanto é difícil né, equação de primeiro grau é sempre muito difícil. Então, vai lá, eu vou dar uma chance aqui para vocês. Vamos de cima para baixo. Você tem que levantar a mão em uma dessas respostas de qual é a média de uma garrafa de whiskey no meu bar: 2 meses? Legal. 3 meses, letra B? 6 meses? 1 ano? 2 anos?
Legal, isso não é uma prova, não vai ter nada. Vou fazer a conta com vocês aqui juntos tá, que é de primeiro grau, é bem difícil. Eu errei, galera, quando eu fiz da primeira vez e eu até não acreditei, naquele dia eu bebi mais do que os outros.
WIP, eu tenho 12 garrafas no meu bar, eu já falei para vocês que eu termino 6 por ano, qual é o Lead Time? Quer cortar aqui, corta o b com b, Lead Time é de 2 anos. Contraintuitivo, uma galera achou que fosse 2 meses e eu também achava. Como assim? Termino 6 por ano…
O que acontece? Para a galera que está em dúvida, eu falei que, em um ano, eu termino 6 garrafas. Uma garrafa em quanto tempo? Um ano 6, uma garrafa em 2 meses. Eu vou simplificar, esquece que no meu bar cabem 12 garrafas. No meu bar, só cabe uma garrafa. Qual é o Lead Time daquela uma garrafa? 2 meses.
Se agora eu falo, tá, o meu bar agora cabem 2 garrafas. Cada dia eu bebo um pouco de uma, qual é o average Lead Time de cada garrafa? 4 meses, 3… você entende, porque são 2 anos, os nossos sistemas são sempre assim, a gente nunca trabalha numa só feature, numa só coisa ou 12 projetos numa empresa inteira.
Vamos lá, vamos mudar. Eu estou interessado em reduzir o lead time. Como é que eu consigo reduzir o lead time de garrafa de whiskey no meu bar? Como eu consigo reduzir? Beber mais? Uma só por vez ou diminuir o WIP? Se eu diminuir o WIP, vou terminar as garrafas mais rápido.
Legal, beber mais é outra, mas eu não quero ter uma cirrose, não vou fazer isso ou no teu time você não tem como contratar mais gente? Diminuir o tamanho do bar, diminui o WIP. Chamar um amigo seria contrata mais gente. Chama um amigo, aumenta o Troughput. Batch Size, diminui o tamanho da garrafa, em vez de você pegar a garrafa grande, compra uma pequenininha, pois meu intuito era experimentar mais garrafas de whiskey, mas só podiam entrar 12.
Garrafa pequenininha vai terminar mais rápido. É o que Tim falou tudo isso tem a ver com continuos delivery. Beleza, vamos mudar de assunto, agora vamos falar de Queue and wait time, mas eu vou contar a história real.
Moro em Porto Alegre atualmente. Domingo, muita coisa fecha lá, estava voltando da praia de Porto Alegre, é maravilhosa a praia que tem lá próxima, Xangri-lá, é o paraíso, o nirvana na Terra, voltando com fome, chegando em Porto Alegre umas 9 da noite… Queria comer uma coisas, estava com um pouquinho de fome, não tinha nada na geladeira.
Eu e minha esposa falamos: vamos comer uma coisinha? Vamos. No posto de gasolina não queria, McDonald’s não, falei vamos na temakeria. Estacionei o carro, fui na temakeria, fechada e ela falou: oh, tem aquele restaurante japonês aqui na esquina. Aí eu falei: japonês? Tá. Chega lá, pedi três temakis, dois pra mim e eu pra ela e o cara: ah, quer beber? E eu falei: não, hoje não. Estou dirigindo, só quero comer e comprei três temakis.
Olhei, um restaurante grande, só que era domingo à noite e tinha umas quatro mesas ocupadas. Eu saí puto, demorou 40 minutos. Essa foi minha experiência: eu estava com muita fome, queria um temaki, era tudo que eu queria, aquela coisinha rapidinha e levou mais de 30 minutos e saí super insatisfeito.
Fui embora e falei: nossa, não vou mais voltar nesse restaurante. Meses depois, eu voltei lá e tentei entender o que aconteceu. Vou colocar aqui uma frase que eu criei, porque eu já li muitos autores com ideias similares, mas ninguém botou essa frase tão pequena e eu criei, especialmente, para a Agile Trends.
“O tempo total de espera para um item é a soma do tempo que ele passa na fila mais o tempo que ele passa no teu sistema”.
O total wait é o Queue time mais o work time. Diferente de cada tipos de work items, tem o temaki pequeninho e o super combinado, mega, blaster, maiorzão. Um temaki leva um minuto para o cara fazer. O combinado ele faz super rápido, mas leva 10 minutos.
Depois de um tempo, eu voltei no restaurante e fui dar uma olhada… tá, por que aconteceu isso? Fui ver o Kanban system deles e, cara, o garçom pega a ordem e ele vai e tem um sushiman só e ele pega e bota em uma fila e o cara vai trabalhando em um, depois no outro. Super normal o Kanban Visual Management é bem legal, mas eu estava puto.
Esse é o sistema deles, digamos assim: quando eu cheguei lá, essa é minha ordem aqui que só tem um tracinho, que é temaki, e as outras eram combinado especial, não sei o que e por aí vai. Está aqui oh, esse é o exemplo que ele tinha: estava trabalhando em alguma coisa, que leva 10 minutos, tinha umas 3 que levam 10 minutos e tinha a minha que, provavelmente, leva um minuto.
Me ajuda aqui: qual é o wait time do meu item? Faz aí de cabeça e a gente vai fazer junto. Na real, o Queue time vai ser entre 30 e 40 minutos, porque têm 4 pedidos grandes, um sendo trabalhado, esse é o que eu não sei se vai levar de 0 a 10, não sei há quanto tempo ele começou, têm 3 na fila e cada um leva 10 minutos, por isso que o Queue time aqui é o tempo de espera vai ser entre 30 e 40.
O work time é um minuto, foi o que falei pra vocês que o temaki leva um minuto. Então, o meu total wait ele vai ser alguma coisa entre 31 e 41 minutos. Como eu consigo reduzir esse wait time para o carinha que chega lá, com fome, querendo um temaki? Classe de serviço, ele falou: usa a classe de serviço, o que ele faz com classes de serviço diferente? Dá um tratamento diferente, exatamente.
Só que classe serviço é muito pra galera do restaurante japonês. Se você é uma cor diferente, uma classe de classe serviço e tal, ou bota duas filas e trata diferente, coisas super simples, ordem grande vem aqui em cima e ordem pequena vem aqui.
Qual o meu novo tempo de espera pro meu temaki? Só considera agora que ordem pequena tem prioridade maior. Vou deixar para vocês fazerem aí, de cabeça, Qual é agora o meu novo tempo de espera? Tá entre 10 e 11 minutos, ele vai terminar essa aqui, não sei se entre zero a 10, depois essas aqui que é a um.
Vê para esse carinha aqui, o último, o que vai mudar para ele se minha ordem passar na frente dele? Um minuto, para ele faz muita diferença, para o meu temaki faz. Gente, isso acontece no nosso dia a dia de trabalho, seja o bug emergencial, seja a classe serviço, na tua apresentação você falou disso, isso acontece e o que a gente faz no nosso mundinho? O que eu fazia como Scrum Master?
Não, não, não, pera lá, eu tenho aqui oh Scrum Master Certified, espere pela próxima Sprint, bota no backlog, que foi exatamente o que fizeram comigo lá. Galera é isso que eu tinha, simples, whiskey e sushi. Se você quiser trocar um feedback, manda aqui no Twitter @paulocaroli e vamos para as perguntas.
E aqui o episódio de hoje. Espero que você tenha gostado. Eu te peço para se inscrever e recomendar esse Podcast na sua plataforma de podcast preferido, como Spotify e YouTube, e nas redes sociais. Ou, como eu prefiro: recomende aos amigos. Assim, você me ajuda com a missão de compartilhar conhecimento sobre as novas relações de trabalho, de forma a contribuir para a transformação de um mundo melhor.
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Notas do episódio:
- https://www.caroli.org/livro/diagrama-de-fluxo-cumulativo/ (anos após essa apresentação, o autor dedicou algum tempo para escrever isso de forma mais clara)
- A correlação das duas imagens, os parâmetros de fluxo e o Diagrama de Fluxo Cumulativo estão bem explicados no livro.
- https://www.caroli.org/devolucao-evolucao-e-revolucao/
- https://www.caroli.org/bar-de-uisque-wip-cycle-time-lead-time-batch-size/ (o vídeo dessa palestra)
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