A estrutura de três horizontes da McKinsey fornece uma nomenclatura para: o momento atual (horizonte 1), um futuro próximo (horizonte 2) e um futuro mais distante (horizonte 3). Empresas inovadoras distribuem seu portfólio de investimento de acordo com esses três horizontes.
A McKinsey realizou estudos e pesquisas sobre como as empresas sustentam o crescimento. Com base nessas pesquisas, criou-se a estrutura de três horizontes, uma abordagem que ilustra como gerenciar para o desempenho atual, entretanto maximizando futuras oportunidades de crescimento.
Desde o lançamento do meu livro Lean Inception, baseado no conceito de MVP –produto mínimo viável, ou Minimum Viable Product, em inglês– tenho buscado um melhor esclarecimento sobre experimentos, MVP e produtos estabelecidos. Encontrei na estrutura dos três horizontes uma boa forma de expressar o meu entendimento e sugestão sobre a gestão de portfólio e investimento em produtos e inovação.
Horizonte 1 – estável
No horizonte 1 estão as vacas leiteiras, aqueles produtos já crescidos, estáveis e que estão gerando o sustento da empresa atualmente.

Vaca leiteira – H1
Talvez esses já não tenham muito investimento em novo desenvolvimento. A maior parte do investimento está em operação, em mantê-lo funcionando e atendendo as necessidades atuais do seu cliente.
Horizonte 2 – emergente
O horizonte 2 mostra o que está por vir num futuro próximo (em alguns meses ou anos, dependendo do nicho de mercado). São os produtos ou features emergentes. Aqueles que requerem mais investimento em desenvolvimento e criação do que em operação (a base de usuários e/ou a exposição do produto ainda é pequena).
Invista nas bezerras
O investimento em H2 é o gasto com suas bezerras, aquelas que são candidatas a futuras vacas leiteiras. Lembre-se que as atuais vacas leiteiras vão ficar velhas e vão secar. Logo, você precisa investir nessas bezerras!
Mas nem toda bezerra vai virar uma boa vaca leiteira. Isso faz parte do negócio. Aprendi isso com meu avô que criava gado leiteiro: ou segue apostando na bezerra (pois começou a dar leite), ou pivota seu uso (deixa para reproduzir, talvez gerando alguma vaca leiteira), ou desiste (pare de gastar com essa bezerra pois ela não vai virar uma vaca leiteira; bom, nesse caso a pobrezinha ia para o abate).

como assim não vamos prosseguir?!
Prosseguir, pivotar, ou cancelar. Esse é o mantra para os produtos e as features emergentes.
Horizonte 3 – experimento
O horizonte 3 é um futuro bem distante, anos ou décadas, dependendo do seu nicho de mercado.

surpresas do H3
E a metáfora da vaca acaba aqui. No horizonte 3 você nem sabe o que vai estar dando o sustento da fazenda. Simples assim. Pode ser uma criação de ovelhas de raça, búfalos leiteiros, plantação de soja, minério, aeroporto para marcianos, etc.

experimentos em H3
É experimento. Ideias e mais ideias. Algo bem distante. Talvez até inimaginável com o seu conhecimento atual.

experimentos geram muitos dados
São experimentos, coisas para te fazerem pensar, para te ajudarem a entender um mundo novo que ainda nem se formou. Talvez até te tirando da zona de conforto (por exemplo um engenheiro da Kodak com seus experimentos sobre fotografia digital em 1974).
H3 -> H2
Mas assim como a vaca atual está secando, a bezerra também vai secar, e lá na frente, você vai precisar de alguma ideia nova. Algo que brote e possa emergir.

sim, deu certo!
Agora sim, posso ressaltar que o investimento em H2 ou é para algo próximo ao seu produto atual (uma bezerra que também vai dar leite) ou é algum experimento que já se mostrou interessante, ou seja, algo que veio de H3 para H2.
H2 -> H1
O movimento de H2 (emergir) para H1 (estável) é comum nas empresas. E isso era o suficiente no século passado, para muitos nichos de mercado.

o mundo está mudando
Mas o mundo mudou. Com o advento da internet, da mobilidade, das redes sociais, e a computação nas nuvens, tudo ficou acelerado. O H3 era muito distante, e provavelmente não iria derrubar um CEO. Ele se aposentaria antes disso.
Agora é diferente. O H3 chega mais rápido. E com ele, a inovação disruptiva, aquela que altera o seu negócio pela raiz. Que vai derrubar um CEO após o outro, e tirar a empresa do mercado.
A mensagem é clara: quem não investir em experimentos não vai sobreviver. É questão de tempo. Quem não se reinventar vai ficar de fora.

um fotógrafo (com uma máquina antiga)
E não é investimento realizado em H1 e H2. Aqueles onde existe ROI e/ou NPL. São investimentos em experimentos. Sem resultados esperados. É investimento em H3.

investindo em H3
Mas cuidado. No momento que se coloca expectativa de resultado no experimento, ele deixa de ser um experimento. Em contrapartida um MVP tem uma expectativa de resultado. Um MVP deve colocar uma hipótese a prova: será que essa bezerra vai dar leite?
Cuidado, você pode estar se iludindo e chamando H2 de H3. Não confunda um H3 que entrou para H2 com algo que começa com H2. MVP é H2. É algo com resultado esperado e com expectativa de emergir.

chegou o médico
H3 são experimentos. Criatividade, liberdade, observação. Não geram métricas para validar uma hipótese. Podem gerar dados, mas sem métricas previamente definidas.
Um mar de dados para ser analisado de vários ângulos diferentes. Até que saia dali uma ideia mais evoluída. Algo que ajude a formar uma hipótese. Algo para o qual possamos elaborar um MVP, e colocar a tal hipótese a prova.
Perceba a diferença: em H2 temos um resultado esperado. Podemos descrevê-lo, colocá-lo num canvas (o canvas MVP), criar, e verificar se estamos alcançando ou não. Poderemos decidir entre pivotar, cancelar ou prosseguir.
Mas em H3 não. Não temos resultado, mas sim um processo para experimentação: criatividade, liberdade, observação. E depois, se alguém der sentido de algo que apareça dentre os vários experimentos, formulamos uma hipótese.
Experimento, resultado, receita
Interessante. Em H1 o foco é na receita. Quando a vaca leiteira começar a secar, planejamos a sua descontinuação.
Em H2 o foco é no resultado. Melhores resultados indicarão as melhores vacas leiteiras, onde deveremos dar mais atenção, afinal de contas, esse será o nosso sustento. Baseado em resultado decidimos prosseguir, pivotar, ou cancelar.
E em H3 o foco é no processo de experimentação, onde a empresa reconhece a aceleração do seu nicho de mercado e decide o quanto vai dedicar a experimentos.
Um novo mundo
E o portfólio de investimento da sua empresa? Está alinhado com a velocidade deste novo mundo?
Não é mais uma questão de ser inovador, mas sim de sobrevivência. O mundo mudou . E muito. Não escrevi este artigo em uma máquina de escrever. Tão pouco escrevi em computador. Usei um aparato que muitos pensaram ser usado somente para falar.