UX Inclusivo em Prática: Integrando a Acessibilidade no Design de Experiências

12 abr 2023 | UX

imagem em fundo roxo claro, com a ilustração que contém elementos referentes à acessibilidade digital, lembrando diferentes dificiências e uma pessoa cadeirante junto

Por Liliane Cláudia*

Nos últimos anos, a acessibilidade tem assumido um papel cada vez mais relevante no desenvolvimento de soluções digitais. Com o aumento da conscientização sobre a importância da inclusão e diversidade, impulsionada por práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG), é fundamental que os profissionais envolvidos na construção de experiências considerem todos os usuários em seus projetos.

Este artigo tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o UX Inclusivo e fornecer informações práticas para profissionais que desejam integrar a acessibilidade em todas as etapas de seus projetos, com o objetivo de criar experiências mais eficazes para usuários com diferentes necessidades sensoriais, cognitivas e físicas.

Definição e importância do UX Inclusivo
Utilização das abordagens de Design Inclusivo na UX
Estratégias para promover o UX Inclusivo em uma organização
Empresas que implementaram o UX Inclusivo adequadamente
Como os usuários interagem com recursos de acessibilidade em soluções digitais
Compreendendo os problemas de acessibilidade na usabilidade
Métodos de pesquisa inclusiva para abranger necessidades específicas
Como criar personas para entender necessidades distintas dos usuários
Guias para o desenvolvimento de acessibilidade em produtos e serviços digitais
Técnicas de teste e avaliação de acessibilidade com usuários reais
Melhores práticas para trabalhar com equipes multidisciplinares
Como lidar com desafios comuns na implementação do UX Inclusivo
Orientações para praticar o UX Inclusivo em todas as etapas do projeto

 

Definição e importância do UX Inclusivo

O UX (User Experience) Inclusivo tem como objetivo compreender os fatores que influenciam a relação entre o usuário e a experiência projetada, a fim de criar interfaces que atendam às necessidades de pessoas que interagem com a tecnologia de maneiras diferentes. Essa definição coloca o usuário no centro do processo e busca integrar a acessibilidade no design de experiências, evitando a construção de soluções baseadas em um único modelo padrão de usuário, o que pode excluir pessoas que não se encaixam nesse perfil.

Para alcançar esse objetivo, é essencial utilizar abordagens que promovam a acessibilidade e inclusão na experiência do usuário. Os benefícios dessas abordagens são significativos e englobam a ampliação do público-alvo, a melhoria da experiência do usuário, a satisfação e a fidelidade do cliente. É importante destacar que a acessibilidade é uma questão ética e legal, uma vez que muitos países exigem por lei que os produtos e serviços sejam acessíveis a todas as pessoas. Portanto, a adoção do UX Inclusivo deve ser obrigatória na construção de soluções para o consumidor.

LEIA MAIS: UX inclusivo: um debate necessário na construção de experiências

 

Utilização das abordagens de Design Inclusivo na UX

O escopo do UX inclusivo visa desenvolver interfaces intuitivas, claras e fáceis de usar, enfatizando os testes de usabilidade como a principal forma de identificar oportunidades de melhorias.

No entanto, para garantir que essas soluções sejam disponibilizadas de maneira genuinamente inclusiva tanto em produtos digitais quanto em lojas físicas e outros espaços sensoriais é imprescindível contemplar a diversidade das pessoas em todas as etapas do processo.

Isso pode ser alcançado por meio do Design Inclusivo, que considera as experiências de uma ampla variedade de usuários, incluindo aqueles com ou sem deficiência, mobilidade reduzida e de diferentes idades, raças, classes e gêneros, entre outros.

As principais abordagens que buscam viabilizar os benefícios do Design Inclusivo na UX incluem:

  • Co-design: adotando uma abordagem inclusiva, incorporando as perspectivas dos usuários e levando em consideração suas diversas perspectivas ao longo do processo de descoberta e melhorias.
  • Alteridade: incentivando a consideração das diferenças entre os usuários, como suas necessidades e habilidades únicas, bem como sua diversidade cultural, a fim de evitar estereótipos e preconceitos.
  • Acessibilidade: estabelecendo como uma prioridade, utilizando técnicas centradas no usuário, como a implementação de guias de Acessibilidade Digital em conjunto com testes de usabilidade com uma ampla variedade de perfis.
  • Flexibilidade: permitindo a tomada de decisões flexíveis, possibilitando mudanças no projeto, como o desenvolvimento de novas soluções que não estavam previstas no plano inicial.

A implementação dessas abordagens podem ainda trazer benefícios para o negócio, como a identificação de oportunidades de aprimoramento da experiência do usuário, bem como um crescimento da oferta no mercado com a criação de produtos e serviços acessíveis e inclusivos. Mas, para alcançar esses resultados, é necessário reconhecer a acessibilidade como uma parte integrante de todo o ciclo de vida do projeto.

 

Estratégias para promover o UX Inclusivo em uma organização

Ao promover o UX Inclusivo, é indispensável adotar uma série de estratégias que envolvam desde o processo de aculturamento até o desenvolvimento de guias e treinamentos para educar colaboradores. Isso requer um comprometimento de todas as áreas, começando, principalmente, pela liderança responsável por cada equipe nessas áreas. A seguir, são apresentadas algumas práticas essenciais para alcançar organizações mais inclusivas e justas:

Processo de aculturação

O primeiro passo é garantir que todos estejam cientes da importância do UX Inclusivo e, especialmente, comprometidos em aplicá-lo nos projetos. Isso pode ser alcançado por meio de um processo de aculturamento, que envolve a definição de valores e princípios da organização em relação à inclusão, uma comunicação clara desses valores para todos os colaboradores e a incorporação desses valores na cultura da empresa. É importante que as lideranças da empresa estejam envolvidas nesse processo e demonstrem apoio e comprometimento com a causa.

Treinamentos para educar colaboradores

Investir em treinamentos e desenvolvimento de conhecimentos é importante para conscientizar a organização sobre a relevância do UX Inclusivo e das melhores práticas a serem utilizadas. Estes treinamentos podem ser conduzidos por equipes que já detenham o conhecimento do conteúdo a ser ensinado ou por especialistas consultores de acessibilidade. O objetivo é assegurar que todos compreendam as demandas dos diversos perfis de usuários e sejam capazes de conceber soluções que correspondam a essas necessidades.

Desenvolvimento de guias

É necessário estabelecer guias de acessibilidade claros para cada área. Sejam temas específicos para a área de design, inovação, RH e employer branding, comunicação, tecnologia, entre outras tantas áreas envolvidas na organização. Esses guias devem conter diretrizes para apoiar a implementação de acessibilidade nos materiais e ferramentas utilizadas pelos colaboradores em seus departamentos, abrangendo informações sobre as necessidades e características de diversos grupos de usuários. Importante destacar que essas diretrizes devem ser atualizadas com frequência para refletir as mudanças nas tecnologias e necessidades dos usuários.

Integração entre áreas

Por fim, para assegurar que a organização como um todo incorpore o UX Inclusivo, todas as áreas devem estar sincronizadas e colaborar em conjunto na inclusão do usuário.

O Design Inclusivo não pode ser encarado como uma responsabilidade exclusiva da equipe de design, mas sim de todos os profissionais comprometidos com os projetos da empresa. É essencial que todos trabalhem juntos e estejam cientes da importância de considerar as perspectivas diversas dos usuários, suas necessidades e habilidades únicas, bem como adaptar o projeto às mudanças.

 

Empresas que implementaram o UX Inclusivo adequadamente

Ao priorizar uma abordagem inclusiva de design de UX, as empresas podem melhorar a experiência do usuário para um público mais amplo, além de demonstrar compromisso com a inclusão e a diversidade. Conheça exemplos de algumas das marcas que se destacaram na implementação do UX Inclusivo, desenvolvendo soluções acessíveis e eficazes:

Microsoft

A Microsoft investiu muito em tornar seus produtos e serviços mais inclusivos, principalmente no que se refere à acessibilidade. O Windows 10, por exemplo, inclui muitos recursos que ajudam pessoas com deficiências a usar o computador, como o Narrador, um leitor de tela e o Reconhecimento de Fala, um recurso que permite que o usuário dite o texto em vez de digitá-lo.

Google

O Google é outra empresa que investe muito em UX Inclusivo. O Google Maps, por exemplo, inclui recursos para ajudar pessoas com deficiências visuais a navegar pela cidade, como a indicação por voz das ruas e pontos de referência. Eles também criaram um programa de certificação para fabricantes de dispositivos, incentivando-os a criar produtos e serviços acessíveis.

Accenture

A Accenture é uma renomada empresa de consultoria em tecnologia e gestão que preza pela acessibilidade e inclusão. Como exemplo, a companhia implementou diversas medidas visando aprimorar a acessibilidade de um de seus clientes, a UnitedHealth Group (UHG), tais como ajustes nos portais da marca e a promoção de treinamentos e workshops de conscientização sobre a importância da acessibilidade e instrução sobre como tornar os serviços disponibilizados acessíveis para pessoas com deficiência.

Coca-Cola

A Coca-Cola criou uma nova embalagem para suas latas que torna suas bebidas mais acessíveis para pessoas com deficiência visual. A nova embalagem apresenta uma faixa em relevo em braille ao longo do topo da lata, permitindo que pessoas com deficiência visual identifiquem o produto sem precisar de ajuda. Além disso, a empresa também desenvolveu uma nova tampa que torna mais fácil abrir as latas para pessoas com deficiência motora.

Airbnb

O Airbnb tem um compromisso com a inclusão e a diversidade e isso se reflete em sua plataforma. A empresa incluiu recursos os quais permitem que os usuários pesquisem por acomodações que atendam às suas necessidades específicas de acessibilidade, como rampas e banheiros acessíveis. Eles criaram uma equipe dedicada à acessibilidade e inclusão a fim de melhorar a experiência dos usuários com deficiência.

Apple

A Apple é conhecida por sua preocupação com a acessibilidade e seus produtos incluem muitos recursos que ajudam pessoas com deficiências a usá-los. Eles têm uma equipe de acessibilidade que trabalha em todos os seus produtos, desde o iPhone até o Apple Watch. O iPhone, por exemplo, inclui um recurso de zoom que permite que os usuários aumentem o tamanho da tela para facilitar a leitura.

Walmart

O Walmart é uma grande rede de varejo com um forte compromisso com a inclusão e acessibilidade. Eles melhoraram a acessibilidade de suas lojas físicas com rampas, banheiros acessíveis e tecnologias para ajudar pessoas com deficiência a fazer compras. Além disso, eles oferecem serviços de compras online que atendem às necessidades de pessoas com deficiência e possuem uma equipe de atendimento ao cliente para ajudá-las.

 

Como os usuários interagem com recursos de acessibilidade em soluções digitais

A Acessibilidade Digital é o principal conjunto de práticas e tecnologias que têm como objetivo tornar os meios digitais mais acessíveis, beneficiando uma diversa gama de usuários. Portanto, é importante entender como diferentes perfis de usuários interagem com os recursos de acessibilidade implementados em produtos e serviços digitais, como sites e aplicativos.

Pessoas com deficiência visual

Existem diversos tipos de deficiência visual, cada um com características e níveis de gravidade distintos, que afetam a forma como os usuários interagem com conteúdos digitais acessíveis. Pessoas com cegueira total, por exemplo, utilizam softwares de leitores de tela para converter o texto em áudio, permitindo que possam ouvir a descrição do conteúdo exibido na tela. Elas também podem utilizar dispositivos de entrada específicos, como teclados braille, para interagir de forma tátil com a tela.

Já as pessoas com baixa visão têm uma visão limitada e, por isso, utilizam ampliadores de tela e plugins para aumentar o tamanho das fontes e imagens, bem como realçar elementos visuais com alto contraste. Pessoas com daltonismo têm dificuldades para distinguir certas cores e, desse modo, utilizam produtos e serviços digitais que oferecem plugins e extensões personalizadas para ajustar as cores de acordo com suas necessidades individuais. Por fim, as pessoas com glaucoma têm visão embaçada e necessitam de recursos de acessibilidade para ajustar o contraste e brilho da tela, a fim de melhorar a experiência no uso das soluções digitais

Pessoas com deficiência auditiva

Cada tipo de deficiência auditiva exige soluções específicas de Acessibilidade Digital para atender às características de cada pessoa. As pessoas com deficiência auditiva leve geralmente se beneficiam de vídeos e áudios com legendas ou transcrições, o que lhes permite acompanhar o conteúdo sem depender exclusivamente da audição. Esses recursos são especialmente úteis para aqueles com dificuldades em ouvir sons suaves ou conversas em ambientes ruidosos.

Já para as pessoas com deficiência auditiva moderada, a dificuldade é ouvir sons em um volume normal, como conversas e ruídos de tráfego. Para superar essas barreiras, frequentemente, utilizam amplificadores de som e sistemas de loop de indução, que transmitem o som diretamente para o aparelho auditivo. No caso de pessoas com deficiência auditiva severa ou profunda, é impossível ouvir sem ajuda auditiva. Para se comunicar com outras pessoas e interagir no meio digital, elas utilizam aparelhos auditivos, implantes cocleares e/ou linguagem de sinais no seu dia a dia.

Pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida

Há diversos tipos de deficiência física que podem ser classificados em várias categorias, dependendo de suas origens e características. Alguns exemplos incluem deficiência motora, deficiência ortopédica ou mobilidade reduzida.

A deficiência motora envolve a limitação ou ausência de movimento em um ou mais membros do corpo. A deficiência ortopédica está associada a problemas musculoesqueléticos, como escoliose, artrite ou osteoporose, que podem afetar a mobilidade e a capacidade de se movimentar confortavelmente, enquanto a mobilidade reduzida se relaciona mais com as limitações de mobilidade, como quando uma mãe segura seu bebê nos braços e fica limitada a digitar.

Pessoas com as condições citadas podem ter dificuldades para usar um mouse ou teclado padrão para interagir com computadores, enfrentando, também, barreiras de acesso na interação com celulares e outros dispositivos móveis. Entre os recursos de acessibilidade para esses usuários, estão: dispositivos de entrada alternativos, como joysticks, mouse trackball e dispositivos de ponteiro alternativos; teclados virtuais, que permitem aos usuários digitar com um toque na tela ou com o movimento da cabeça, como a tecnologia assistiva do Colibri; e software de reconhecimento de voz, que permite aos usuários controlar o computador ou dispositivos móveis com comandos de voz.

Pessoas com deficiência cognitiva

As deficiências cognitivas são bastante diversas, podendo variar consideravelmente em uma única pessoa e estar acompanhadas de comorbidades em diferentes tipos de deficiência que geram dificuldades em níveis distintos. Por exemplo, a comorbidade de processamento auditivo é caracterizada pela dificuldade do cérebro em interpretar informações sonoras, enquanto a comorbidade de fala envolve a dificuldade em produzir sons e palavras de forma clara e compreensível.

Algumas pessoas podem ter limitações leves, moderadas ou graves no funcionamento intelectual e nas habilidades adaptativas necessárias para lidar com as demandas diárias da vida. Essas limitações costumam se manifestar durante o período de desenvolvimento e afetam o desempenho em áreas como comunicação, autocuidado, habilidades sociais e acadêmicas.

Para ajudar essas pessoas, recursos que simplificam a comunicação, como dispositivos de voz que reconhecem palavras simples, podem ser bastante úteis. Em alguns casos, é fundamental que educadores e outros profissionais de apoio trabalhem em conjunto com essas pessoas para ajudá-las a desenvolver habilidades que lhes permitam utilizar a tecnologia de forma segura e eficaz.

Já a neurodiversidade diz respeito a um conceito que reconhece a diversidade natural do cérebro humano e a variedade de habilidades cognitivas e estilos de aprendizagem de cada pessoa, incluindo condições como TEA, TDAH e dislexia.

As pessoas com TEA, por exemplo, podem ter dificuldade em interpretar a linguagem social e emocional e não compreender rapidamente a comunicação verbal. Nesses casos, recursos de acessibilidade digital, como legendas, ajuste de velocidade em vídeos e imagens explicativas, podem promover uma comunicação alternativa clara e visual. Por sua vez, indivíduos com TDAH têm dificuldade em se concentrar em tarefas específicas.

Produtos e serviços que permitem ajustar o tamanho e a fonte do texto, reduzir o ruído de fundo, indicar o foco da leitura, acelerar ou desacelerar vídeos e fornecer lembretes podem ajudar a manter a concentração. Por fim, pessoas com dislexia podem ter dificuldades em ler e escrever, especialmente no reconhecimento de palavras e ortografia. Para ajudar esses usuários, recursos como leitura em voz alta, texto com alto contraste e ferramentas de correção ortográfica podem facilitar a interação com os produtos e serviços digitais.

Pessoas com 50 anos ou mais

As pessoas com 50 anos ou mais podem se beneficiar de recursos de acessibilidade para acessar o conteúdo digital com clareza e facilidade de entendimento. Isso inclui fontes maiores, alto contraste, navegação simplificada por meio de teclado ou voz, por exemplo. É importante destacar que a Acessibilidade Digital não beneficia apenas pessoas com deficiência ou limitações relacionadas à idade. Indivíduos com baixo nível de alfabetização ou que não falam o idioma do site ou aplicativo, por exemplo, também podem ser beneficiados.

Recursos como ajuste de tamanho de fonte e contraste de cores na tela podem facilitar a leitura em ambientes muito claros e a inclusão de legendas com linguagem clara e objetiva pode melhorar a compreensão do conteúdo para todos os usuários. Em outras palavras, os recursos de acessibilidade em soluções digitais não apenas promovem a inclusão de pessoas com deficiência, mas também podem melhorar a experiência de uso para todos os usuários.

No entanto, é importante lembrar que cada indivíduo é único e pode ter necessidades específicas, tornando essencial utilizar métodos que compreendam essas particularidades e busquem projetar experiências em conjunto com o usuário.

 

Compreendendo os problemas de acessibilidade na usabilidade

Compreender os problemas de acessibilidade na usabilidade dos produtos e serviços digitais é fundamental para garantir que todas as pessoas possam utilizar e se beneficiar dessas soluções. No entanto, para compreender esses problemas, é necessário conhecer as barreiras que os usuários enfrentam ao utilizar um produto ou serviço.

Essas barreiras podem ser físicas, como a impossibilidade de acessar determinados botões ou dispositivos, visuais, como a dificuldade em visualizar informações em uma tela, auditivas, como a falta de recursos de áudio ou legendas, ou cognitivas, como a dificuldade em compreender informações complexas ou seguir instruções complicadas.

Uma abordagem bastante útil para a compreensão de como os problemas de acessibilidade acontecem e como devem ser resolvidos, é identificar o perfil do usuário que interage com os recursos de acessibilidade presentes no produto ou serviço avaliar a eficácia deles.

Alguns exemplos desses recursos incluem:

Legendas e audiodescrição

Para usuários com surdez ou cegueira total, é importante que o produto ou serviço conte com recursos que possam ajudá-los a compreender as informações que são apresentadas em uma tela.

Controles remotos alternativos

Para usuários com tetraplegia, pode ser difícil utilizar um mouse ou um teclado padrão. Com isso, é fundamental que o produto e o serviço conte com controles alternativos, como teclados virtuais, comandos por voz ou por movimentos da cabeça.

Contraste e tamanho de fonte

Para usuários com baixa visão, é importante que o produto ou serviço permita a personalização de opções como uma fonte de tamanho adequado e de um contraste que facilite a leitura.

Instruções simples e claras

Para usuários com autismo, é necessário que as instruções do produto ou serviço sejam simples e claras, para que possam compreender as informações e seguir as instruções sem dificuldades.

Ao avaliar a eficácia dos recursos de acessibilidade para garantir que a solução oferecida atenda a todos os usuários, é possível extinguir barreiras que dificultam a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade digital. Além disso, essa abordagem pode também trazer benefícios para uma ampla gama de usuários, já que recursos de acessibilidade podem ajudar a melhorar a experiência e tornar o produto ou serviço mais fácil de usar.

 

Métodos de pesquisa inclusiva para abranger necessidades específicas

Já vimos que incluir as particularidades das necessidades dos usuários é indispensável em projetos que visam desenvolver produtos e espaços acessíveis e inclusivos. Existem diversos métodos de pesquisa que podem ser utilizados para obter insights valiosos de forma que abranja a experiência em diferentes ambientes:

Pesquisas online

São uma forma eficiente e econômica de coletar feedback de usuários com deficiência, além de muito úteis para compartilhar em grupos de afinidades desse público. Mas, para funcionar, as pesquisas devem ser realizadas por meio de plataformas online que ofereçam acessibilidade, como o Google Forms, e devem incluir vídeos com a tradução do conteúdo em linguagem de sinais através de um intérprete de libras, principalmente, quando direcionada a pessoas com deficiência auditiva.

Pesquisa de campo

Envolve a observação direta dos usuários em seu ambiente natural, como em suas casas, locais de trabalho ou espaços públicos. Esse método pode ajudar a identificar barreiras físicas ou sociais que dificultam a inclusão desses usuários, além de permitir uma melhor compreensão sobre a usabilidade das soluções digitais no ambiente físico.

Entrevistas individuais

Podem ser realizadas de forma presencial, por telefone ou videoconferência. Para garantir uma obtenção eficiente de informações, é crucial estabelecer um primeiro contato para levantar dados acerca das necessidades de acessibilidade dos usuários participantes.

Grupos focais

Geralmente compostos por 5 a 9 participantes e moderados por um facilitador, os grupos focais permitem um compartilhamento mútuo de experiências e perspectivas diversas, fornecendo informações valiosas sobre as necessidades dos usuários. Além disso, são uma forma útil de obter feedback sobre produtos e espaços. No entanto, é fundamental garantir a acessibilidade durante as interações, a fim de que todos os participantes possam se envolver plenamente e que a discussão seja verdadeiramente representativa.

Testes de usabilidade

São uma forma de observar diretamente os usuários usando produtos e serviços específicos, identificando problemas de acessibilidade e fornecendo informações sobre como melhorar sua usabilidade para usuários com deficiência. É importante que os pesquisadores garantam os recursos de acessibilidade necessários para o perfil de cada usuário participante.

Para todos os métodos, é necessário adotar práticas eficazes, como garantir a acessibilidade do local (seja físico ou virtual), fornecer tecnologia assistiva (caso necessário), verificar a melhor forma de comunicação e usar uma linguagem clara e simples, permitir tempo suficiente para as respostas, considerar a privacidade e segurança dos participantes, incluir uma ampla variedade de experiências, ser sensível às diferenças culturais e respeitoso ao discutir as necessidades e experiências da pessoa com deficiência, elaborando perguntas abertas que permitam elas compartilhar livremente suas perspectivas.

 

Como criar personas para entender necessidades distintas dos usuários

As personas são personagens fictícios que ajudam a compreender as necessidades e desejos de um grupo específico de usuários. Para criar personas inclusivas e entender os problemas de acessibilidade relacionados à usabilidade de produtos e serviços digitais, siga estas etapas:

Identifique as barreiras de acessibilidade existentes

Pesquise as diretrizes de acessibilidade para soluções digitais, como as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG), e identifique as barreiras que os usuários com deficiência podem enfrentar ao utilizar o produto ou serviço.

Reconheça características distintas dos usuários

Reconheça as características dos usuários e como elas podem afetar a acessibilidade, como idade, habilidades motoras, deficiências visuais ou auditivas, entre outras condições. Como por exemplo, é imprescindível considerar alergias à lactose e glúten em personas de produtos alimentícios. Procure por dados comportamentais relevantes para cada grupo de usuários.

Represente diferentes grupos de usuários

Com base nas informações coletadas, crie personas que representem cada grupo de usuários, suas necessidades e desejos específicos. Certifique-se de incluir pessoas com diferentes deficiências e necessidades de acessibilidade.

Priorize as necessidades de acessibilidade

Identifique as necessidades de acessibilidade mais importantes para cada persona, com base nas informações coletadas durante a pesquisa. Isso permitirá que você priorize as melhorias de acessibilidade mais críticas em seu produto ou serviço.

Use as personas como referência

Utilize as personas inclusivas apenas como referência para projetar a experiência e certifique-se de testar as soluções criadas com usuários reais, que representem as personas criadas. Assim, é possível entender melhor os problemas de acessibilidade na usabilidade de produtos e serviços digitais e projetar soluções mais acessíveis e inclusivas para um público mais amplo.

 

Guias para o desenvolvimento de acessibilidade em produtos e serviços digitais

A Acessibilidade Digital apresenta importantes diretrizes e normas para que desenvolvedores de produtos e serviços digitais possam garantir que suas soluções sejam acessíveis, além de cumprir as leis e regulamentações. Existem vários guias nesse sentido, aqui estão alguns dos principais:

Web Content Accessibility Guidelines (WCAG)

As WCAG são padrões internacionais desenvolvidos pelo W3C (World Wide Web Consortium) para tornar o conteúdo da web mais acessível para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Elas ajudam desenvolvedores e designers a criar conteúdo da web acessível, com três níveis de conformidade: A, AA e AAA. As diretrizes abrangem vários aspectos do conteúdo da web, como apresentação visual, legibilidade do texto, navegação e compatibilidade com tecnologias assistivas. Por serem um padrão oficial, as diretrizes WCAG são originalmente a base para outras documentações de acessibilidade na web.

Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG)

O eMAG é constituído por diretrizes e critérios técnicos cujo objetivo é promover a acessibilidade em websites e sistemas governamentais eletrônicos no Brasil. Criado em 2005, o modelo estabelece padrões rigorosos para a inclusão de pessoas com deficiência visual, auditiva, física, cognitiva e outras, garantindo que esses indivíduos possam acessar e utilizar os serviços e informações disponibilizados pelo governo eletronicamente.

Accessible Rich Internet Applications (ARIA)

As diretrizes ARIA foram desenvolvidas pelo W3C para melhorar a acessibilidade das aplicações web para pessoas que usam tecnologias assistivas, como leitores de tela. Fornecem atributos adicionais que podem ser adicionados a elementos HTML para melhorar sua acessibilidade e compreensibilidade para as tecnologias assistivas. As práticas recomendadas incluem o uso de rótulos para descrever a finalidade dos elementos interativos, a utilização de atributos de estado e informações semânticas para facilitar a navegação dos usuários.

Mobile Web Best Practices

As diretrizes Mobile Web Best Practices são recomendações para desenvolvedores de sites e aplicativos da web móvel para melhorar a acessibilidade, usabilidade e desempenho em dispositivos móveis. Elas incluem práticas técnicas e de design, como o uso de marcação HTML leve, minimização do uso de imagens e scripts, técnicas de design responsivo, além da importância de fornecer conteúdo claro e conciso. Outros tópicos abordados incluem segurança, acessibilidade e testes para garantir que o site ou aplicativo funcione corretamente em diferentes dispositivos e navegadores. As diretrizes foram criadas pelo W3C.

User Agent Accessibility Guidelines (UAAG)

As diretrizes UAAG são um conjunto de critérios para avaliar se um software é acessível ou não e incluem recursos como controle de teclado, acesso a conteúdo multimídia e suporte para tecnologias assistivas. Elas são importantes, porque muitas pessoas enfrentam obstáculos ao usar a web devido a softwares inacessíveis. Seguir as diretrizes UAAG pode ajudar a garantir que as pessoas tenham acesso à web e a todo o seu conteúdo.

Authoring Tool Accessibility Guidelines (ATAG)

As ATAG são diretrizes para desenvolvedores de software e fornecedores de ferramentas de autoria, visando permitir que usuários com deficiência possam criar, editar e publicar conteúdo web de maneira acessível. Há três níveis de conformidade (A, AA e AAA) e as diretrizes são compostas por 28 diretrizes, divididas em três categorias principais: suporte a autores com deficiência, suporte à criação de conteúdo acessível e suporte à verificação de acessibilidade do conteúdo.

Portable Document Format/Universal Accessibility (PDF/UA)

Este é um padrão específico de acessibilidade para documentos em PDF que visa garantir a acessibilidade para pessoas com deficiências. Fornece orientações sobre como criar documentos em PDF acessíveis, incluindo requisitos para marcação, estrutura e navegação. É possível garantir que os documentos sejam acessíveis a todos os usuários, independentemente de suas habilidades ou limitações.

Material Design 3

O Material Design 3 é um conjunto de diretrizes e recursos de design criado pelo Google para ajudar os desenvolvedores a desenvolver interfaces intuitivas e inclusivas em diferentes plataformas. A documentação é organizada em categorias, como navegação, entrada de dados, layout, controles, texto e tipografia, e também oferece informações sobre como implementar esses padrões em projetos e garantir a conformidade com as diretrizes de acessibilidade da WCAG.

GAIA

Este é um guia colaborativo e aberto de recomendações de acessibilidade web, focado em aspectos relacionados ao autismo. As recomendações incluem desde a escrita de conteúdo até recursos programáveis, com o objetivo de fornecer as melhores práticas para auxiliar na tomada de decisões de design ao projetar websites e aplicações web, especialmente, para pessoas com autismo e, também, com deficiências cognitivas ou neuronais.

.horcel

O .horcel é um conjunto de diretrizes de design que visa promover a criação de conteúdo digital acessível e adequado às necessidades de pessoas com TDAH, discalculia e disortografia. Foram desenvolvidas com base no conhecimento de profissionais e acadêmicos especializados em Acessibilidade Digital e experiência do usuário. Somente foram selecionadas as recomendações que não entram em conflito ou contradizem as diretrizes da WCAG 2.1, a fim de garantir que as orientações propostas não prejudiquem outros grupos de usuários.

 

Técnicas de teste e avaliação de acessibilidade com usuários reais

Para garantir que a acessibilidade seja efetiva na experiência do usuário, é crucial realizar testes de usabilidade e avaliações automáticas abrangentes das soluções criadas, tanto em ambientes físicos quanto digitais. Essas abordagens auxiliam na detecção e resolução de problemas de acessibilidade, evitando que eles afetem negativamente os usuários. Confira as principais recomendações:

Envolva uma ampla diversidade de pessoas

É importante considerar que a acessibilidade é um processo contínuo que deve ser integrado no ciclo de vida de desenvolvimento e manutenção do produto ou serviço, envolvendo as perspectivas de uma ampla diversidade de pessoas em todas as etapas. Para isso, recrute pessoas com 50 anos ou mais, pessoas com ou sem deficiência e mobilidade reduzida. Elas fornecerão feedback sobre a situação da usabilidade e os impactos da acessibilidade.

Para garantir o sucesso desse processo, é essencial definir objetivos claros, escolher uma amostra representativa de usuários, estabelecer tarefas específicas, criar um ambiente realista de avaliação, conduzir sessões de teste individuais, analisar e registrar os resultados e repetir o processo até os resultados se mostrarem satisfatórios para os usuários.

Abranja o ambiente físico e digital

No ambiente físico, podem ser feitos testes de usabilidade de diversas formas, desde entrevistas e observação dos usuários enquanto eles utilizam o produto, até questionários e métricas de desempenho. Esses testes têm como objetivo identificar possíveis problemas que os usuários possam enfrentar ao interagir com o produto ou serviço digital, tais como dificuldades de navegação, falta de clareza nas instruções, recursos assistivos utilizados pelos usuários e lentidão no desempenho.

Os resultados obtidos devem ser usados para orientar o design de melhorias e validar o sucesso das soluções propostas. No ambiente digital, as estratégias podem incluir avaliações automáticas e manuais, como navegação em websites, leitura de conteúdo em telas de computador e dispositivos móveis, e uso de recursos de acessibilidade, como teclados virtuais, leitores de tela e ampliadores de tela.

As avaliações podem ser realizadas em websites, aplicativos móveis e softwares desktop por meio de ferramentas automáticas, como o WAVE e AccessMonitor, ou de forma manual, por profissionais experientes em técnicas avançadas de Acessibilidade Digital. Esses profissionais ajustam erros identificados pela ferramenta, como problemas de aparência, codificação e elementos. Para uma avaliação eficaz, é importante que seja realizada nos dispositivos pessoais dos usuários, a fim de gerar informações precisas sobre o uso cotidiano.

 

Melhores práticas para trabalhar com equipes multidisciplinares

Trabalhar com equipes multidisciplinares em projetos de acessibilidade pode ser um desafio, mas com as práticas corretas, é possível obter resultados positivos e bem-sucedidos. Aqui estão algumas das melhores práticas que você pode seguir:

Considere a acessibilidade desde o início

Para evitar problemas de implementação durante o processo de desenvolvimento de soluções inclusivas, é importante compreender que a acessibilidade não deve ser vista como uma reflexão tardia, mas sim como um elemento crucial do design. Adotar uma abordagem centrada na acessibilidade desde o início do processo de design pode melhorar significativamente a qualidade geral do projeto, pois incentiva a consideração de todas as necessidades dos usuários desde o início. Além disso, essa abordagem pode resultar em economia de tempo e dinheiro, pois permite o planejamento inicial de custos e esforços de tecnologia para ajustes ou correções ao longo da vida do produto.

Eduque a equipe sobre acessibilidade

É essencial que todos os membros da equipe estejam plenamente conscientes e compreendam os conceitos e técnicas fundamentais relacionados à acessibilidade. Dessa maneira, seguirão abordagens que visam adotar padrões de acessibilidade e inclusão, além de considerar a diversidade cultural dos usuários para evitar estereótipos e preconceitos.

Considere criar treinamentos para a equipe com o intuito de ensinar as melhores práticas de acessibilidade e como implementá-las no projeto. Para garantir a eficácia desses treinamentos, é importante oferecer instruções específicas sobre as melhores práticas e a aplicação bem-sucedida desses conceitos no projeto. Podem ser abordados temas relevantes, como padrões e diretrizes de Acessibilidade Digital, barreiras enfrentadas pelos usuários, responsabilidades legais e éticas, exemplos de melhores práticas de testes e avaliações para garantia de acessibilidade.

Defina metas claras

Para garantir a coerência dos objetivos de acessibilidade entre todos os membros da equipe, é fundamental estabelecer metas claras desde o início do projeto. Uma estratégia útil é empregar a abordagem SMART, que visa estabelecer objetivos específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazo determinado. Isso garante que as metas sejam efetivas, pois a equipe tem clareza sobre o que precisa ser feito, como e quando, aumentando a eficiência e a produtividade do projeto.

A aplicação da estratégia SMART também permite uma abordagem sistemática e abrangente em relação à acessibilidade, uma vez que cada objetivo está alinhado à visão geral do projeto. É importante, no entanto, que essas metas sejam relevantes e realistas em relação ao projeto. Além disso, é fundamental monitorar e avaliar regularmente o progresso em relação às metas estabelecidas para garantir que o projeto avance na direção correta e os objetivos sejam alcançados.

Estabeleça lideranças competentes

O projeto torna-se ainda mais produtivo quando as pessoas encarregadas de liderar as equipes possuem conhecimento em acessibilidade. Com essa expertise, elas serão capazes de agir adequadamente em situações específicas durante a implementação, tomando decisões que reduzem os custos e o tempo gasto em retrabalho ou ajustes posteriores para tornar o produto e o serviço acessível.

Isso ajuda a manter a equipe concentrada nos objetivos do projeto, garantindo que todos trabalhem juntos de maneira eficiente. Além disso, líderes capacitados em acessibilidade saberão como engajar stakeholders tomadores de decisão para assegurar que a solução final atenda às necessidades de todos os usuários, melhorando a usabilidade, a experiência do usuário e a satisfação geral.

Inclua a perspectiva do usuário

Durante todo o processo de design e desenvolvimento de acessibilidade, é fundamental incorporar a perspectiva do usuário, a fim de alcançar um alto nível de acessibilidade no produto ou serviço final. Uma abordagem recomendada é o co-design, que envolve os usuários, especialmente, aqueles que pertencem a grupos sub-representados, no processo de design, para garantir que suas necessidades sejam atendidas.

Para alcançar esse objetivo, é necessário utilizar métodos de pesquisa que atendam às necessidades específicas de cada pessoa, garantindo uma abordagem centrada no usuário e, portanto, uma solução realmente acessível. Essa é uma maneira eficiente de aproveitar as experiências dos usuários por meio de um processo de colaboração no projeto, tornando a perspectiva do usuário uma ferramenta essencial na implementação das soluções criadas.

Comunique-se regularmente

Para garantir o alinhamento de todos os membros da equipe, é essencial manter uma comunicação frequente, clara e direta. Recomenda-se estabelecer um cronograma regular para atualizações de projetos, visando garantir que todos estejam cientes de quaisquer mudanças ou atualizações importantes. As informações devem ser apresentadas de forma simples e objetiva, utilizando uma linguagem acessível a todos os colaboradores, incluindo aqueles com deficiência.

Além disso, é fundamental que a equipe esteja aberta a receber feedback dos membros com deficiência, promovendo a inclusão de forma efetiva no projeto e atendendo às suas necessidades. Dessa forma, a equipe poderá trabalhar de forma mais produtiva, alcançando melhores resultados com a acessibilidade.

 

Como lidar com desafios comuns na implementação do UX Inclusivo

A implementação do UX Inclusivo pode apresentar desafios que precisam ser abordados para garantir que a experiência do usuário seja satisfatória para todos os beneficiados pelas soluções, independentemente de suas habilidades, origem ou características pessoais. Abaixo, algumas sugestões de como lidar com esses desafios:

Falta de diversidade na equipe

A falta de diversidade entre os integrantes da própria equipe pode dificultar a identificação de problemas de acessibilidade e de usabilidade que possam afetar usuários com necessidades específicas. Para lidar com isso, é importante incluir pessoas com diferentes habilidades sensoriais, cognitivas e físicas, origens e características pessoais na equipe, assim como realizar pesquisas com usuários de diferentes perfis.

Falta de conhecimento sobre acessibilidade

Muitas vezes, os designers podem não ter conhecimento suficiente sobre as diretrizes e melhores práticas de acessibilidade, o que pode levar a decisões de design que excluem certos grupos de usuários. É importante que a equipe de design e desenvolvimento se capacite e se informe sobre as diretrizes de acessibilidade, como a WCAG, e busque constantemente atualizações sobre as melhores práticas.

Limitações tecnológicas

Algumas tecnologias podem apresentar limitações que dificultam a implementação de recursos de acessibilidade, como a incompatibilidade com recursos assistivos. É importante avaliar os recursos disponíveis que estão sendo utilizados e encontrar soluções alternativas, como oferecer opções acessíveis para tecnologias que não possam ser implementadas.

Pressão por prazos e orçamentos

A pressão por cumprir prazos e orçamentos pode levar à falta de flexibilidade para tomada de decisões que priorizam a construção de soluções menos robustas em detrimento da acessibilidade. É importante que a equipe esteja ciente das metas de inclusão desde o início do projeto e priorize a acessibilidade no processo de construção.

Ausência de feedback dos usuários

A ausência de feedback dos usuários pode dificultar a identificação de problemas de usabilidade e de acessibilidade. É importante buscar feedback constante dos usuários, especialmente aqueles com necessidades específicas, e incorporar esses feedbacks no processo de design.

 

Orientações para praticar o UX Inclusivo em todas as etapas do projeto

Implementar o UX Inclusivo é imprescindível para assegurar que todas as pessoas possam usufruir de um produto ou serviço. Para alcançar esse objetivo, é recomendado construir um plano que oriente a equipe na busca por uma experiência inclusiva e acessível. Esse deve ser um documento estratégico que sirva como fonte única e confiável para designers, pesquisadores, desenvolvedores e partes interessadas, a fim de definir, organizar, priorizar e comunicar o trabalho futuro em direção à inclusão. A seguir, alguns passos para elaborar um plano de trabalho:

Pesquisa e análise

Para entender a experiência dos usuários com um produto ou serviço, é importante escolher processos capazes de englobar os diferentes perfis de usuários, compreender suas necessidades e desafios, realizar pesquisas em diferentes ambientes para identificar barreiras, e analisar os dados coletados para identificar padrões e tendências que possam afetar a experiência dos usuários.

Definição de metas

Ao definir as prioridades, é imprescindível que sejam estabelecidas metas de inclusão específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazo definido (planejadas através do método SMART) que sejam realistas em relação à realidade do projeto. É importante definir os requisitos de acessibilidade e usabilidade que eliminarão as barreiras enfrentadas pelos usuários e determinar as prioridades de implementação, considerando soluções alternativas para as melhorias de acessibilidade mais críticas. Além disso, recomenda-se que as metas e requisitos de inclusão sejam incluídos em todas as etapas do projeto.

Prototipagem e testes

Para garantir uma boa usabilidade e acessibilidade de um produto, é necessário criar protótipos que incluam todos os recursos e funcionalidades necessários, testá-los com usuários de diferentes necessidades sensoriais, cognitivas e físicas, considerando, também, as particularidades de suas habilidades e fazer ajustes com base nos resultados dos testes.

Implementação e avaliação contínua

Na fase de implementação do design final, mantenha uma comunicação constante com a equipe envolvida para lidar com possíveis mudanças no projeto e documente as decisões tomadas. Além disso, é importante avaliar regularmente a experiência do usuário, a fim de garantir que as metas de inclusão sejam alcançadas. Considere necessário fazer ajustes contínuos para melhorar a usabilidade e acessibilidade ao longo do tempo.

Seguir um plano de trabalho baseado nas melhores práticas de UX Inclusivo deve resultar em uma documentação capaz de enraizar as metas de inclusão na estratégia maior da organização e garantir que todos os usuários sejam atendidos adequadamente e de forma inclusiva.

Quer saber mais sobre este tema? Em breve, a autora estará disponibilizando novos conteúdos.

LEIA MAIS: Confira a curadoria de conteúdos sobre o UX Inclusivo produzida pela autora

 

*Liliane é uma designer especialista em acessibilidade e cofundadora da Deficiência Tech, uma comunidade pioneira na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de tecnologia brasileiro. Ela atuou em projetos para grandes grandes players do mercado e tornou-se uma fonte de inspiração para soluções inclusivas, como o plugin Liliane Canvas Control para Adobe XD. Além disso, Liliane é mentora de UX Inclusivo e oferece treinamentos para profissionais da área de tecnologia, por meio da Caroli.org. Como pessoa com deficiência física, ela tem uma sensibilidade aguçada para as barreiras enfrentadas por outras pessoas com deficiência, o que reforça sua convicção de que o design desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de tecnologias que possam ser utilizadas por todas as pessoas, em qualquer momento da vida.

 

 

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A autora está organizando, junto à Caroli.org, o Treinamento UX Inclusivo em Prática. Ele oferecerá conhecimento na prática, oportunidade em que os participantes farão atividades com as ferramentas Mapa da Alteridade, Usabilidade-WCAG e Work Plan de UX Inclusivo, criadas pela autora, e também terão acesso aos materiais Mapa de Inclusão na Usabilidade, Abordagens de Design Inclusivo na UX e Diretrizes de Acessibilidade Digital.

Se você tem interesse em participar e ajudar na definição de data para a primeira turma, entre no grupo de WhatsApp clicando no botão abaixo:

 

Caroli.org

A Caroli.org, com um excelente time e a integração de pessoas autoras, treinadoras, parceiras e demais colaboradoras, tem como missão principal compartilhar conhecimento e, dessa forma, contribuir para a transformação de um mundo melhor. Veja mais detalhes sobre nossos Treinamentos autorais e exclusivos, nossos Livros e muitos outros conteúdos em nosso Blog.
UX Ágil: Como otimizar o UX Design em Times Ágeis

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